Poesia – Quarentena https://quarentena.org Curta sua casa: Indicamos produtos e serviços pagos e gratuitos pra que você aproveite melhor sua casa. :) Wed, 08 May 2024 00:07:29 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://quarentena.org/wp-content/uploads/2020/04/cropped-logo2_quarentena_512x512px-1-32x32.png Poesia – Quarentena https://quarentena.org 32 32 “A rosa do povo”, de Carlos Drummond de Andrade https://quarentena.org/indicacoes/a-rosa-do-povo-de-carlos-drummond-de-andrade/ https://quarentena.org/indicacoes/a-rosa-do-povo-de-carlos-drummond-de-andrade/#respond Fri, 08 May 2020 02:00:21 +0000 https://quarentena.org/?post_type=product&p=5844 A rosa do povo é um livro de poemas de Carlos Drummond de Andrade que fala da guerra e dos afetos, do passado familiar e da experiência de viver no Rio de Janeiro. Além de especular sobre o lirismo em tempos sombrios, este livro estabeleceu, definitivamente, a figura do poeta mineiro no panorama da melhor poesia de língua portuguesa no século XX.]]> Apresentação

Publicado em 1945, A rosa do povo é o livro politicamente mais explícito de Carlos Drummond de Andrade. É um poderoso olhar sobre a Segunda Guerra, a cisão ideológica, a vida nas cidades, o amor e a morte.

Tudo isso é observado a partir daquela que então era a capital do país. O Rio de Janeiro, nossa primeira grande cidade cosmopolita, ocupa uma posição privilegiada nos poemas, a ponto de muitos críticos compararem a visão de cidade expressa pelo autor mineiro àquela de Charles Baudelaire (1821-1867), o poeta francês que foi o primeiro grande cantor da experiência urbana. Pois é escrevendo a partir desse Rio de Janeiro que se urbanizava freneticamente, dando as costas ao passado, que Drummond fala da guerra e de seus desdobramentos no continente europeu e presta seu tributo aos milhões de civis que pereceram no conflito, além de refletir sobre a própria possibilidade de expressar todos esses acontecimentos em verso.

Formalmente falando, A rosa do povo é um livro que pertence ao alto modernismo, em que Drummond experimenta o verso espraiado à maneira de Walt Whitman, ironiza o passado literário brasileiro e exercita as mais diversas formas e dicções nos cinquenta e cinco poemas reunidos no volume.

Com sua beleza e profundidade, A rosa do povo traz um Drummond de vasto escopo temático. A personalidade do poeta, a família, o cotidiano e a História comparecem com inaudita força neste livro. Trata-se de um testemunho de suas ideias e afetos num momento da vida em que experimentava a maturidade e já começava a olhar para o passado enquanto captava, como poucos autores, os sinais confusos de seu próprio tempo.

A editora disponibiliza os 3 primeiros poemas do livro como degustação em pdf, mas você também poderá lê-los abaixo ou na aba “Trecho da Obra”.

 

Índice / Sumário do livro / Lista dos poemas

    1. Consideração do poema
    2. Procura da poesia
    3. A flor e a náusea
    4. Carrego comigo
    5. Anoitecer
    6. O medo
    7. Nosso tempo
    8. Passagem do ano
    9. Passagem da noite
    10. Uma hora e mais outra
    11. Nos áureos tempos
    12. Rola mundo
    13. Áporo
    14. Ontem
    15. Fragilidade
    16. O poeta escolhe seu túmulo
    17. Vida menor
    18. Campo, chinês e sono
    19. Episódio
    20. Nova canção do exílio
    21. Economia dos mares terrestres
    22. Equívoco
    23. Movimento da espada
    24. Assalto
    25. Anúncio da rosa
    26. Edifício São Borja
    27. O mito
    28. Resíduo
    29. Caso do vestido
    30. O elefante
    31. Morte do leiteiro
    32. Noite na repartição
    33. Morte no avião
    34. Desfile
    35. Consolo na praia
    36. Retrato de família
    37. Interpretação de dezembro
    38. Como um presente
    39. Rua da madrugada
    40. Idade madura
    41. Versos à boca da noite
    42. No país dos Andrades
    43. Notícias
    44. América
    45. Cidade prevista
    46. Carta a Stalingrado
    47. Telegrama de Moscou
    48. Mas viveremos
    49. Visão 1944
    50. Com o russo em Berlim
    51. Indicações
    52. Onde há pouco falávamos
    53. Os últimos dias
    54. Mário de Andrade desce aos infernos
    55. Canto ao homem do povo Charlie Chaplin

Posfácio:
A rosa, o povo, Antonio Carlos Secchin

Leituras recomendadas
Cronologia
Crédito das imagens
Índice de primeiros versos

 

Trecho da obra

Consideração do poema

Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convêm.
As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.

Uma pedra no meio do caminho
ou apenas um rastro, não importa.
Estes poetas são meus. De todo o orgulho,
de toda a precisão se incorporaram
ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius
sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo.
Que Neruda me dê sua gravata
chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski.
São todos meus irmãos, não são jornais
nem deslizar de lancha entre camélias:
é toda a minha vida que joguei.

Estes poemas são meus. É minha terra
e é ainda mais do que ela. É qualquer homem
ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna
em qualquer estalagem, se ainda as há.
— Há mortos? há mercados? há doenças?
É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
por que falsa mesquinhez me rasgaria?
Que se depositem os beijos na face branca, nas principiantes rugas.
O beijo ainda é um sinal, perdido embora,
da ausência de comércio,
boiando em tempos sujos.

Poeta do finito e da matéria,
cantor sem piedade, sim, sem frágeis lágrimas,
boca tão seca, mas ardor tão casto.
Dar tudo pela presença dos longínquos,
sentir que há ecos, poucos, mas cristal,
não rocha apenas, peixes circulando
sob o navio que leva esta mensagem,
e aves de bico longo conferindo
sua derrota, e dois ou três faróis,
últimos! esperança do mar negro.
Essa viagem é mortal, e começá-la.
Saber que há tudo. E mover-se em meio
a milhões e milhões de formas raras,
secretas, duras. Eis aí meu canto.

Ele é tão baixo que sequer o escuta
ouvido rente ao chão. Mas é tão alto
que as pedras o absorvem. Está na mesa
aberta em livros, cartas e remédios.
Na parede infiltrou-se. O bonde, a rua,
o uniforme de colégio se transformam,
são ondas de carinho te envolvendo.

Como fugir ao mínimo objeto
ou recusar-se ao grande? Os temas passam,
eu sei que passarão, mas tu resistes,
e cresces como fogo, como casa,
como orvalho entre dedos,
na grama, que repousam.

Já agora te sigo a toda parte,
e te desejo e te perco, estou completo,
me destino, me faço tão sublime,
tão natural e cheio de segredos,
tão firme, tão fiel… Tal uma lâmina,
o povo, meu poema, te atravessa.

 

Procura da poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem; rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito,
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

 

A flor e a náusea

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

 

“A rosa do povo” nos vestibulares:

2020

Universidade Federal de Uberlândia

2021

Universidade Federal de Uberlândia

2022

Universidade Federal de Uberlândia

 

Vídeos

Simpósio A Rosa do Povo (Playlist de 7 vídeos)


Programa produzido pelo UNIVESP (24/03/20).

 

Maria Bethânia, Arnaldo Antunes e José Miguel Wisnik sobre Drummond


Programa produzido pelo Canal Arte1 (24/03/20).

 

Poemas de Drummond declamados por outras pessoas


Canal do YouTube Caio T.

 

Vida e obra de Drummond através de entrevistas


Programa produzido pela TV Cultura.

 

Obras de Carlos Drummond de Andrade

Poesia/Crônica

Alguma Poesia (1930)
Brejo das Almas (1934)
Sentimento do Mundo (1940)
José (1942)
A Rosa do Povo (1945)
Novos Poemas (1948)
Claro Enigma (1951)
Fazendeiro do Ar (1954)
Viola de Bolso (1955)
A Vida Passada a Limpo (1959)
Lição de Coisas (1962)
Versiprosa (1967)
Boitempo (1968)
A Falta que Ama (1968)
Nudez (1968)
As Impurezas do Branco (1973)
Menino Antigo (Boitempo II) (1973)
A Visita (1977)
Discurso de Primavera e Algumas Sombras (1977)
O marginal Clorindo Gato (1978)
Esquecer para Lembrar (Boitempo III) (1979)
A Paixão Medida (1980)
Caso do Vestido (1983)
Corpo (1984)
Eu, Etiqueta (1984)
Amar se Aprende Amando (1985)
Poesia Errante (1988)
O Amor Natural (1992)
Farewell (1996)
Os Ombros Suportam o Mundo (1935)
Futebol a Arte (1970)
Naróta do Coxordão (1971)
Da Utilidade dos Animais
Elegia (1938)

Antologia poética

Poesia até Agora (1948)
A Última Pedra no meu Caminho (1950)
50 Poemas Escolhidos pelo Autor (1956)
Antologia Poética (1962)
Seleta em Prosa e Verso (1971)
Amor, Amores (1975)
Carmina Drummondiana (1982)
Boitempo I e Boitempo II (1987)
Minha Morte (1987)

Infantis

O Elefante (1983)
História de Dois Amores (1985)
O Pintinho (1988)
Rick e a Girafa[14]

Prosa

Confissões de Minas (1944)
Contos de Aprendiz (1951)
Passeios na Ilha (1952)
Fala, Amendoeira (1957)
A Bolsa & a Vida (1962)
A Minha Vida (1964)
Cadeira de Balanço (1966)
Caminhos de João Brandão (1970)
O Poder Ultrajovem e mais 79 Textos em Prosa e Verso (1972)
De Notícias & Não-notícias Faz-se a Crônica (1974)
Os dias lindos (1977)
70 Historinhas (1978)
Contos Plausíveis (1981)
Boca de Luar (1984)
O Observador no Escritório (1985)
Tempo Vida Poesia (1986)
Moça Deitada na Grama (1987)
O Avesso das Coisas (1988)
Auto-retrato e Outras Crônicas (1989)
As Histórias das Muralhas (1989)

 

Detalhes do e-book

  • Formato: eBook Kindle/Amazon
  • Tamanho do arquivo: 2000 KB
  • Selo: Companhia das Letras (18 de fevereiro de 2012)
  • Editora: Companhia das Letras
  • Número de páginas: 238 páginas
  • Idioma: Português
  • ASIN: B009OR2TEU

Detalhes do livro físico

  • Formato: brochura. Amazon
  • Dimensões: 13,70 X 21,00 cm
  • Peso líquido: 0,253 kg
  • Número de páginas:  200 páginas
  • Capa: Warrak Loureiro
  • Selo: Companhia das Letras (05 de março de 2012)
  • Editora: Companhia das Letras
  • ISBN-10: 8535921184
  • ISBN-13: 978-8535920277
  • Idioma: Português
  • ISBN-13: 9788535920277

 

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“Ilíada”, Homero. Edição Penguin, Cia das Letras. https://quarentena.org/indicacoes/iliada-homero-penguin-cia-das-letras/ https://quarentena.org/indicacoes/iliada-homero-penguin-cia-das-letras/#respond Thu, 07 May 2020 05:00:04 +0000 https://quarentena.org/?post_type=product&p=5838 Ilíada é considerado o livro fundador da literatura ocidental que narra a tragédia de Aquiles e a Guerra de Troia em uma nova tradução do helenista português Frederico Lourenço.]]> Apresentação da Ilíada, de Homero

Primeiro livro da literatura ocidental, a Ilíada parece se tratar, pelo título, apenas de um breve incidente ocorrido no cerco dos gregos à cidade troiana de Ílion, a crônica de aproximadamente cinquenta dias de uma guerra que durou dez anos. No entanto, graças à maestria de Homero, seu autor, essa janela no tempo se abre para paisagens vastíssimas, repletas de personagens e eventos que ficariam marcados para sempre no imaginário ocidental.

É nesse épico homérico que surgem figuras como Páris, Helena, Heitor (Hector), Ulisses (Odiseseu), Aquiles e Agamêmnon, e em seus versos somos transportados diretamente para a intimidade dos deuses, com suas relações familiares complexas e às vezes cômicas.

Mas, acima de tudo, a Ilíada é a narrativa da tragédia de Aquiles. Irritado com Agamêmnon, líder da coalizão grega, por seus mandos na guerra, o célebre semideus se retira da batalha, e os troianos passam a impor grandes derrotas aos gregos. Inconformado com a reviravolta, seu escudeiro Pátroclo volta ao combate e acaba morto por Heitor. Cegado pelo ódio, Aquiles retorna à carga sedento por vingança, apesar de todas as previsões sinistras dos oráculos.

Esta edição em versos da Ilíada, com tradução do helenista português Frederico Lourenço, é acompanhada de textos introdutórios, uma lista das principais personagens e alianças bélicas e mapas que ajudam o leitor a compreender a complexa geografia homérica.

A editora disponibiliza os 268 primeiros versos do Canto I como degustação em pdf, mas você também poderá lê-los abaixo ou na aba “Trecho da Obra”.

 

Abertura da Ilíada, de Homero

Os gregos acreditavam que a Ilíada e a Odisseia haviam sido escritas por um único poeta, a quem chamavam de Homero. Nada se sabe a respeito de sua vida. Embora sete cidades gregas reivindiquem a honra de ser sua terra natal, segundo a tradição antiga, ele era oriundo da região da Jônia, no Egeu oriental. Tampouco há registros de sua data de nascimento, ainda que a maioria dos estudiosos modernos situe a criação da Ilíada e da Odisseia em fins do século VIII a.C. ou início do século VII a.C.

Tradução e prefácio:

Frederico Lourenço nasceu em Lisboa, em 1963. Formou-se em línguas e literaturas clássicas na Faculdade de Letras de Lisboa, onde concluiu seu doutorado e hoje leciona. Colaborou com os jornais Público, O Independente, Diário de Notícias e Expresso. Publicou críticas literárias nas revistas Colóquio/ Letras, Journal of Hellenic Studies, Humanitas, Classical Quarterly e Euphrosyne. É autor dos romances Pode um desejo imenso, Amar não acaba, A formosa pintura do mundo e A máquina do arcanjo, e de Ensaio sobre Píndaro, Grécia revisitada e Novos ensaios helênicos e alemães, entre outros. Traduziu também do grego a Odisseia e as tragédias de Eurípides, Hipólito e Íon. Sua tradução da Odisseia recebeu o prêmio D. Diniz da Casa de Mateus e o grande prêmio de tradução do Pen Clube Português e da Associação Portuguesa de Tradutores.

Introdução da Ilíada e apêndices:

Peter Jones é formado em Cambridge, com doutorado em Londres sobre Homero. Foi professor secundário e de classicismo na University of Newcastle upon Tyne. Atualmente é escri￾tor, radialista e jornalista. Nomeado mbe (Ordem do Impérito Britânico) em 1983, é porta-voz nacional do Co-ordinating Committee for Classicis e fundador, com Jeannie Cohen, da instituição beneficente Friends of Classics. Escreveu as séries QED e Eureka para o Daily Telegraph, ambas agora publicadas pela Duckworth como Learn Latin e Learn Ancient Greek. A Druckworth também publicou sua Classics in Translation (outra serie do Telegraph), Ancient and Modern (de sua coluna semanal no Spectator) e An Intelligent Person’s Guide to Classics. É coautor das séries Reading Greek e Reading Latin, para a Cambridge, e autor de livros, artigos e comentários sobre Homero.

Introdução à edição de 1950 da Ilíada:

E. V. Rieu, editor da Penguin Classics de 1944 a 1964, foi professor da St. Paul’s School e do Baliol College, Oxford. Trabalhou na Methuen desde 1923, da qual foi diretor administrativo de 1933 a 1936 e, posteriormente, consultor acadêmico e literário. Foi presidente da Virgil Society em 1951 e vice-presidente da Royal Society of Literature em 1958. Recebeu o título de doutor honorário em letras da Leeds University em 1949 e a Ordem do Império Britânico em 1953. Entre suas publicações, figuram The Flattered Flying Fish and Other Poems e traduções da Odisseia, da Ilíada, das Bucólicas de Virgílio, da Argonáutica de Apolônio de Rodes e dos Quatro Evangelhos pela Penguin Classics. Faleceu em 1972.

 

Índice / Sumário do livro

Introdução — Peter Jones
Introdução à edição de 1950 — E. V. Rieu
Prefácio — Frederico Lourenço
Personagens principais

Gregos
Troianos e aliados de Troia
Deuses

Mapas

1. Uma reconstrução dos campos de batalha imaginários de Homero
2. A Trôade
3. Lugares e contingentes troianos
4. Grécia homérica
5. Contingentes gregos em Troia

ILÍADA

Canto I
Canto II
Canto III
Canto IV
Canto V
Canto VI
Canto VII
Canto VIII
Canto IX
Canto X
Canto XI
Canto XII
Canto XIII
Canto XIV
Canto XV
Canto XVI
Canto XVII
Canto XVIII
Canto XIX
Canto XX
Canto XXI
Canto XXII
Canto XXIII
Canto XXIV

Um breve glossário
Índice remissivo
Referências bibliográficas

 

Trecho da obra Ilíada, de Homero

Canto I

Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida
(mortífera!, que tantas dores trouxe aos Aqueus
e tantas almas valentes de heróis lançou no Hades,
ficando seus corpos como presa para cães e aves
5 de rapina, enquanto se cumpria a vontade de Zeus),
desde o momento em que primeiro se desentenderam
o Atrida, soberano dos homens, e o divino Aquiles.

Entre eles qual dos deuses provocou o conflito?
Apolo, filho de Leto e de Zeus. Enfurecera-se o deus
10 contra o rei e por isso espalhara entre o exército
uma doença terrível de que morriam as hostes,
porque o Atrida desconsiderara Crises, seu sacerdote.
Ora este tinha vindo até as naus velozes dos Aqueus
para resgatar a filha, trazendo incontáveis riquezas.
Segurando nas mãos as fitas de Apolo que acerta ao longe
15 e um cetro dourado, suplicou a todos os Aqueus,
mas em especial aos dois Atridas, condutores de homens:

“Ó Atridas e vós, demais Aqueus de belas cnêmides!
Que vos concedam os deuses, que o Olimpo detêm,
saquear a cidade de Príamo e regressar bem a vossas casas!
20 Mas libertai a minha filha amada e recebei o resgate,
por respeito para com o filho de Zeus, Apolo que acerta ao longe.”
Então todos os outros Aqueus aprovaram estas palavras:
que se venerasse o sacerdote e se recebesse o glorioso resgate.
Mas tal não agradou ao coração do Atrida Agamêmnon;
25 e asperamente o mandou embora, com palavras desabridas:

“Que eu te não encontre, ó ancião, junto às côncavas naus,
demorando-te agora ou voltando nos tempos próximos,
pois de nada te servirá o cetro e a fita do deus!
Não libertarei a tua filha. Antes disso a terá atingido a velhice
30 em minha casa, em Argos, longe da sua pátria,
enquanto se afadiga ao tear e dorme na minha cama.
Vai-te agora. Não me encolerizes: partirás mais salvo.”

Assim falou. Amedrontou-se o ancião e obedeceu ao que fora dito.
Caminhou em silêncio ao longo da praia do mar marulhante.
35 E depois de ter se afastado para longe, rezou o ancião
ao soberano Apolo, que Leto de belos cabelos deu à luz:

“Ouve-me, senhor do arco de prata, deus tutelar de Crise
e da sacratíssima Cila, que pela força reges Tênedo,
ó Esminteu! Se alguma vez ao belo templo te pus um teto,
40 ou queimei para ti as gordas coxas de touros
ou de cabras, faz que se cumpra isto que te peço:
que paguem com tuas setas os Dânaos as minhas lágrimas!”

Assim disse, orando; e ouviu-o Febo Apolo.
Desceu do Olimpo, com o coração agitado de ira.
45 Nos ombros trazia o arco e a aljava duplamente coberta;
aos ombros do deus irado as setas chocalhavam
à medida que avançava. E chegou como chega a noite.
Depois sentou-se à distância das naus e disparou uma seta:
terrível foi o som produzido pelo arco de prata.
50 Primeiro atingiu as mulas e os rápidos cães;
mas depois disparou as setas contra os homens.
As piras dos mortos ardiam continuamente.

Durante nove dias contra o exército voaram os disparosdo deus.
Ao décimo dia, Aquiles convocou a hoste para a assembleia:
55 fora isso que lhe colocara no espírito a deusa Hera de alvos braços.
Pois sentia pena dos Dânaos, porque os via morrer.
Assim que se encontraram todos reunidos,
levantou-se para lhes falar Aquiles de pés velozes:
“Atrida, julgo agora que seremos obrigados a regressar
60 e voltar frustrados para casa, isto no caso de fugirmos à morte,
se ao mesmo tempo a guerra e a doença dizimam os Aqueus.
Mas agora interroguemos algum vidente ou sacerdote,
ou um intérprete de sonhos — também os sonhos vêm de Zeus —,
que nos indique por que razão se encolerizou Febo Apolo,
65 se por causa de promessa ou de hecatombe nos censura;
na esperança de que aceite o sacrifício de ovelhas e cabras
imaculadas e que assim afaste de nós a pestilência.”

Tendo assim falado, voltou a sentar-se. Entre eles se levantou
então Calcas, filho de Testor, de longe o melhor dos adivinhos.
70 Todas as coisas ele sabia: as que são, as que serão e as que já foram.
Guiara até Ílion as naus dos Aqueus, graças aos vaticínios
que lhe tinham sido concedidos por Febo Apolo.
Bem-intencionado, assim se dirigiu à assembleia:

“Mandas-me explicar, ó Aquiles dileto de Zeus,
75 a ira do soberano Apolo que acerta ao longe.
Por isso falarei. Mas tu deverás refletir e jurar
que me defenderás com as tuas palavras e as tuas mãos.
Pois sei que encolerizarei certo homem: aquele que rege,
poderoso, os Argivos e a quem obedecem os Aqueus.
80 Maior é o rei que se encoleriza contra um homem inferior.
Pois embora a ira durante um dia consiga reprimir,
daí por diante se mantém ressentido, até cumprir
o que lhe vai no coração. Pensa, pois, se me salvarás.”

Respondendo-lhe assim falou Aquiles de pés velozes:
85 “Toma coragem e profere o oráculo que souberes.
Por Apolo dileto de Zeus a quem tu rezas, ó Calcas,
e por intermédio de quem aos Dânaos dás oráculos,
enquanto eu for vivo e contemplar a luz na terra
ninguém te porá a mão pesada junto às côncavas naus —
90 ninguém de todos os Dânaos, nem que te refiras a Agamêmnon,
que agora entre todos os Aqueus declara ser o mais nobre.”

Tomando então coragem, falou o adivinho irrepreensível:
“Não é porque o deus censura alguma promessa ou hecatombe,
mas por causa do sacerdote, que Agamêmnon desconsiderou.
95 Não libertou a filha nem quis receber o resgate:
por isso nos dá desgraças o deus que acerta ao longe.
E não afastará dos Dânaos a repugnante pestilência,
até que ao querido pai seja restituída a donzela de olhos
brilhantes, gratuitamente e sem resgate, e seja levada até Crise
100 uma sagrada hecatombe. Então convencê-lo-emos a acalmar-se.”

Tendo assim falado, voltou a sentar-se. Entre eles se levantou
o herói, filho de Atreu, Agamêmnon de vasto poder,
irritado: tinha o coração cheio de negra raiva
e os olhos assemelhavam-se a fogo faiscante.
105 Com olhar nefasto, foi a Calcas que primeiro dirigiu a palavra:

“Adivinho de desgraças, em meu benefício nunca tu profetizaste!
Sempre te é caro ao coração profetizar sofrimentos,
mas uma palavra benfazeja nunca foste capaz de proferir
ou fazer cumprir! Agora estás a vaticinar no meio dos Dânaos,
110 dizendo que é por causa disto que o deus lhes traz desgraças,
porque pela donzela Criseida eu não quis aceitar o glorioso
resgate, visto que decidi em vez disso ficar com ela
em minha casa. Prefiro-a a Clitemnestra, minha esposa
legítima, pois em nada lhe é inferior, nem de corpo,
115 nem de estatura, nem na inteligência, nem nos lavores.
Mas apesar disso restituí-la-ei, se for isso a coisa melhor.
Quero que o povo seja salvo, de preferência a que pereça.
Mas preparai para mim outro prêmio, para que não seja só eu
entre os Argivos que fico sem prêmio, pois tal seria indecoroso.
120 Pois vedes todos vós como o meu prêmio vai para outra parte.”

Respondendo-lhe assim falou o divino Aquiles de pés velozes:
“Gloriosíssimo Atrida, mais ganancioso de todos os homens!
Como podem dar-te um prêmio os magnânimos Aqueus?
Nada sabemos de riqueza que jaza num fundo comum,
125 mas os despojos das cidades saqueadas foram distribuídos,
e seria indecoroso tentar reaver tais coisas de junto do povo.
Pela tua parte, deverás cedê-la, como manda o deus. E nós Aqueus
te daremos três e quatro vezes a respectiva recompensa,
quando Zeus nos conceder saquear Troia de belas muralhas.”

130 Respondendo-lhe assim falou o poderoso Agamêmnon:
“Não é deste modo, valente embora sejas, ó divino Aquiles,
que me enganas, pois nem me passarás à frente nem convencerás.
Na verdade o que queres é que, mantendo tu próprio o teu prêmio,
seja eu forçado a passar sem o meu, visto que me mandas restituí-la.
135 Mas se me derem um prêmio os magnânimos Aqueus,
dando algo que me agrade, que seja recompensa condigna —
mas se nada me derem, então eu próprio irei tirar o prêmio
que te pertence, ou a Ájax, ou até a Ulisses: tirá-lo-ei
e levá-lo-ei comigo. Zangar-se-á quem receber a minha visita!
140 Mas nestas coisas pensaremos depois, num momento futuro.
Agora lancemos uma escura nau para o mar divino;
nela reunamos remadores e nela ponhamos a hecatombe;
façamos embarcar a própria Criseida de lindo rosto.
E que da nau tome o comando um chefe aconselhado:
145 talvez Ájax, ou Idomeneu ou o divino Ulisses,
ou então tu próprio, ó Pelida, mais temível dos homens,
para que o sacrifício oferecido apazigue o deus que atua ao longe.”

Fitando-o com sobrolho carregado respondeu Aquiles de pés velozes:
“Ah, como te vestes de vergonha, zeloso do teu proveito!
150 Como obedecerá às tuas palavras algum dos Aqueus,
para seguir caminho ou pelejar pela força contra guerreiros?
Eu não vim para cá lutar por causa dos lanceiros Troianos,
visto que eles em nada me ofenderam:
nunca eles me levaram bois ou cavalos, nem jamais na Ftia
155 de férteis sulcos, alimentadora de homens,
prejudicaram as colheitas, pois muitas coisas há de permeio:
montanhas sombrias e o mar retumbante.
Mas foi a ti, grande desavergonhado!, que seguimos,

para que te regozijasses, para que obtivéssemos honra para Menelau:
foi por ti, ó cara de cão!, que investimos contra os Troianos.
160 Mas nisto não queres tu pensar nem refletir.
E ameaças vir tu próprio tirar-me o prêmio, pelo qual
muito me esforcei, e que me deram os filhos dos Aqueus.
Nunca recebo eu prêmios como os teus, quando saqueiam
os Aqueus uma das cidades bem habitadas dos Troianos.
165 A maior porção da guerra impetuosa têm as minhas mãos
de aguentar; mas quando chega o momento da distribuição,
és tu que ficas com o prêmio melhor; e eu volto para as naus
com coisa pouca, mas que me é querida, depois de ter me cansado
a combater. Mas agora voltarei para a Ftia, visto que é muito melhor
170 regressar para casa com as naus recurvas, pois não estou disposto
a ficar aqui, desonrado, acumulando para ti tesouros.”

A ele deu resposta Agamêmnon, soberano dos homens:
“Foge, pois, se é isso que o coração te impele a fazer!
Não te peço que fiques por minha causa. Junto de mim
175 outros há que me honram, sobretudo Zeus, o conselheiro!
De todos os reis criados por Zeus és para mim o mais odioso.
Sempre te são gratos os conflitos, as guerras e as lutas.
Se és excepcionalmente possante, é porque um deus tal te concedeu.
Vai-te para casa com as tuas naus e com os teus companheiros;
180 rege os Mirmidões. Pois de ti não quero saber,
nem me interessa a tua ira. E deste modo te ameaçarei:
uma vez que Febo Apolo me arrebata Criseida,
mandá-la-ei embora numa das minhas naus e com companheiros
meus, mas irei depois à tua tenda buscar Briseida de lindo rosto,
185 essa que te calhou como prêmio, para que fiques bem a saber
quanto mais forte que tu eu sou! Que doravante a outro repugne
declarar-se meu igual e comparar-se comigo na minha presença!”

Assim falou. Mas uma dor se apoderou do Pelida, cujo coração
no peito hirsuto se dividia no que haveria de pensar:
190 ou desembainhar de junto da coxa a espada afiada
e dispersar a assembleia matando o Atrida;
ou antes acalmar a ira e refrear o coração.
Enquanto isto pensava no espírito e no coração,
tirando a espada da bainha, chegou Atena,
195 vinda do céu. Mandara-a a deusa Hera de alvos braços,
pois a ambos ela estimava e protegia no seu coração.
Postou-se atrás dele e agarrou no loiro cabelo do Pelida,
visível apenas para ele. Nenhum dos outros a viu.
Espantou-se Aquiles ao voltar-se para trás; e logo reconheceu
200 Palas Atena, cujos olhos faiscavam terrivelmente.
E falando dirigiu-lhe palavras aladas:

“Por que aqui regressas, ó filha de Zeus detentor da égide?
Será para veres a insolência do Atrida Agamêmnon?
Mas isto te direi, coisa que penso vir a cumprir-se:
205 é pela sua arrogância que depressa perderá a vida.”

A ele respondeu a deusa, Atena de olhos esverdeados:
“Vim para refrear a tua fúria (no caso de me obedeceres)
do céu: mandou-me a deusa Hera de alvos braços,
pois a ambos ela estima e protege no seu coração.
210 Mas desiste agora do conflito e não tires a espada com a mão.
Com palavras o podes injuriar, como de fato acontecerá.
Pois isto te direi, coisa que haverá de se cumprir:
no futuro três vezes mais gloriosas oferendas te serão
trazidas, por causa da insolência dele. Refreia-te e obedece-nos.”

215 Respondendo-lhe assim falou Aquiles de pés velozes:
“Forçoso é, ó deusa, que se obedeça às palavras de vós ambas,
ainda que o coração esteja enraivecido. Assim será melhor.
Àquele que aos deuses obedece, ouvidos lhe dão eles também.”

Assim falou e reteve a mão pesada no punho de prata,
220 enfiando de novo a grande espada na bainha; não desobedeceu
à palavra de Atena. Por seu lado, partiu ela para o Olimpo,
para o palácio de Zeus detentor da égide, para junto dos deuses.

Mas o Pelida falou de novo com palavras agressivas
ao Atrida; de forma alguma desistiu da sua raiva:
225 “Pesado de vinho! Olhos de cão! Coração de gamo!
Armares-te para a guerra juntamente com o povo,
ou fazeres uma emboscada com os príncipes dos Aqueus:
isso nunca tu ousaste no coração. Tal coisa para ti seria a morte.
Muito mais agradável é ires pelo vasto exército dos Aqueus,
230 arrancando os prêmios a quem te levanta a voz.
Rei voraz com o próprio povo, é sobre nulidades que tu reinas:
se assim não fosse, ó Atrida, esta agora seria a tua última insolência.
Mas isto te direi; e jurarei um grande juramento.
Por este cetro, que nunca mais terá folhas ou rebentos,
235 a partir do momento em que deixou o tronco nas montanhas,
nem nunca mais reverdecerá — pois dele cortou o bronze
as folhas e o casco, e agora os filhos dos Aqueus
que proferem sentenças o seguram, aqueles que praticam
a justiça por mando de Zeus — será este um poderoso juramento:
240 sobrevirá um dia aos filhos dos Aqueus o desejo de terem Aquiles,
a todos eles. E nesse dia não conseguirás tu, apesar do sofrimento,
socorrê-los, quando muitos por Heitor matador de homens
caírem chacinados. E tu morderás dentro de ti o coração
de raiva, porque em nada honraste o melhor dos Aqueus.”

245 Assim falou o Pelida, atirando para o chão o cetro cravejado
de adereços dourados, sentando-se ele próprio em seguida.
Quanto ao Atrida, continuava encolerizado. Então entre eles
se levantou Nestor das doces palavras, o límpido orador de Pilos;
da sua língua fluía um discurso mais doce que o mel.
250 Vira morrer já duas gerações de homens mortais,
dos que com ele nasceram e foram alimentados
na sacra Pilos; e agora reinava sobre a terceira.
Bem-intencionado, assim se dirigiu à assembleia:

“Ah, como é grande a desgraça que à Acaia sobreveio!
255 Na verdade se regozijariam Príamo e os filhos de Príamo,
e todos os outros Troianos se alegrariam no coração,
se soubessem de todo este conflito entre vós ambos,
vós que entre os Dânaos sois excelsos no conselho e na luta.
Ouvi-me! Sois ambos mais novos do que eu.
260 Pois já eu com homens mais valentes que vós
me dei — e nunca esses me desconsideraram.
De resto nunca homens assim eu alguma vez verei:
homens como Pirítoo e Driante, pastor do povo;
Ceneu e Exádio e o divino Polifemo;
265 Teseu e Egeu, semelhante aos imortais.
Os mais fortes foram eles dos homens da terra;
os mais fortes foram eles, e com os mais fortes combateram:
até com centauros das montanhas, que de todo destruíram.

 

Personagens principais da Ilíada, de Homero

Gregos

Agamênon
Ájax
Ájax
Antíloco
Aquiles
Atreu
Automedonte
Calcas
Diomedes
Estênelo
Eurípilo
Fênix
Helena
Héracles
Idomeneu
Lápitas
Macáon
Meleagro
Menécio
Menelau
Menesteu
Meríones
Nestor
Pátroclo
Peleu
Taltíbio
Télamon
Tersites
Teucro
Tideu
Ulisses

Troianos e aliados de Troia

Andrômaca
Antenor
Astíanax
Briseida
Cassandra
Criseida
Deífobo
Dólon
Eécion
Eneias
Glauco
Hécuba
Heitor
Heleno
Ideu
Ilo
Laomedonte
Pândaro
Páris
Polidamante
Príamo

Deuses

Afrodite
Apolo
Ares
Ártemis
Atena
Crono
Desvario
Discórdia
Erínias
Hades
Hebe
Hefesto
Hera
Hermes
Ilitias
Íris
Leto
Musa
Oceano
Posêidon
Tétis
Titãs
Xanto
Zeus

 

Detalhes do produto

  • Formato do Livro: Capa comum
  • Páginas: 720 páginas
  • Título: Ilíada
  • Autor: Homero
  • Selo: Penguin; Edição: 1 (6 de fevereiro de 2013)
  • Editora: Companhia das Letras
  • Tradução: Frederico Lourenço
  • Idioma: Português
  • ISBN-10: 8563560565
  • ISBN-13: 978-8563560568
  • Tags: Iliada, Iliad
  • ISBN-13: 9788563560568
  • Dimensões do produto: 20 x 13,4 x 3,4 cm
  • Peso de envio: 689 g

 

Veja outro título da Penguin: Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

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