Drummond – Quarentena https://quarentena.org Curta sua casa: Indicamos produtos e serviços pagos e gratuitos pra que você aproveite melhor sua casa. :) Sun, 16 Jun 2024 14:07:24 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.6.1 https://quarentena.org/wp-content/uploads/2020/04/cropped-logo2_quarentena_512x512px-1-32x32.png Drummond – Quarentena https://quarentena.org 32 32 “A rosa do povo”, de Carlos Drummond de Andrade https://quarentena.org/indicacoes/a-rosa-do-povo-de-carlos-drummond-de-andrade/ https://quarentena.org/indicacoes/a-rosa-do-povo-de-carlos-drummond-de-andrade/#respond Fri, 08 May 2020 02:00:21 +0000 https://quarentena.org/?post_type=product&p=5844 A rosa do povo é um livro de poemas de Carlos Drummond de Andrade que fala da guerra e dos afetos, do passado familiar e da experiência de viver no Rio de Janeiro. Além de especular sobre o lirismo em tempos sombrios, este livro estabeleceu, definitivamente, a figura do poeta mineiro no panorama da melhor poesia de língua portuguesa no século XX.]]> Apresentação

Publicado em 1945, A rosa do povo é o livro politicamente mais explícito de Carlos Drummond de Andrade. É um poderoso olhar sobre a Segunda Guerra, a cisão ideológica, a vida nas cidades, o amor e a morte.

Tudo isso é observado a partir daquela que então era a capital do país. O Rio de Janeiro, nossa primeira grande cidade cosmopolita, ocupa uma posição privilegiada nos poemas, a ponto de muitos críticos compararem a visão de cidade expressa pelo autor mineiro àquela de Charles Baudelaire (1821-1867), o poeta francês que foi o primeiro grande cantor da experiência urbana. Pois é escrevendo a partir desse Rio de Janeiro que se urbanizava freneticamente, dando as costas ao passado, que Drummond fala da guerra e de seus desdobramentos no continente europeu e presta seu tributo aos milhões de civis que pereceram no conflito, além de refletir sobre a própria possibilidade de expressar todos esses acontecimentos em verso.

Formalmente falando, A rosa do povo é um livro que pertence ao alto modernismo, em que Drummond experimenta o verso espraiado à maneira de Walt Whitman, ironiza o passado literário brasileiro e exercita as mais diversas formas e dicções nos cinquenta e cinco poemas reunidos no volume.

Com sua beleza e profundidade, A rosa do povo traz um Drummond de vasto escopo temático. A personalidade do poeta, a família, o cotidiano e a História comparecem com inaudita força neste livro. Trata-se de um testemunho de suas ideias e afetos num momento da vida em que experimentava a maturidade e já começava a olhar para o passado enquanto captava, como poucos autores, os sinais confusos de seu próprio tempo.

A editora disponibiliza os 3 primeiros poemas do livro como degustação em pdf, mas você também poderá lê-los abaixo ou na aba “Trecho da Obra”.

 

Índice / Sumário do livro / Lista dos poemas

    1. Consideração do poema
    2. Procura da poesia
    3. A flor e a náusea
    4. Carrego comigo
    5. Anoitecer
    6. O medo
    7. Nosso tempo
    8. Passagem do ano
    9. Passagem da noite
    10. Uma hora e mais outra
    11. Nos áureos tempos
    12. Rola mundo
    13. Áporo
    14. Ontem
    15. Fragilidade
    16. O poeta escolhe seu túmulo
    17. Vida menor
    18. Campo, chinês e sono
    19. Episódio
    20. Nova canção do exílio
    21. Economia dos mares terrestres
    22. Equívoco
    23. Movimento da espada
    24. Assalto
    25. Anúncio da rosa
    26. Edifício São Borja
    27. O mito
    28. Resíduo
    29. Caso do vestido
    30. O elefante
    31. Morte do leiteiro
    32. Noite na repartição
    33. Morte no avião
    34. Desfile
    35. Consolo na praia
    36. Retrato de família
    37. Interpretação de dezembro
    38. Como um presente
    39. Rua da madrugada
    40. Idade madura
    41. Versos à boca da noite
    42. No país dos Andrades
    43. Notícias
    44. América
    45. Cidade prevista
    46. Carta a Stalingrado
    47. Telegrama de Moscou
    48. Mas viveremos
    49. Visão 1944
    50. Com o russo em Berlim
    51. Indicações
    52. Onde há pouco falávamos
    53. Os últimos dias
    54. Mário de Andrade desce aos infernos
    55. Canto ao homem do povo Charlie Chaplin

Posfácio:
A rosa, o povo, Antonio Carlos Secchin

Leituras recomendadas
Cronologia
Crédito das imagens
Índice de primeiros versos

 

Trecho da obra

Consideração do poema

Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convêm.
As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.

Uma pedra no meio do caminho
ou apenas um rastro, não importa.
Estes poetas são meus. De todo o orgulho,
de toda a precisão se incorporaram
ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius
sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo.
Que Neruda me dê sua gravata
chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski.
São todos meus irmãos, não são jornais
nem deslizar de lancha entre camélias:
é toda a minha vida que joguei.

Estes poemas são meus. É minha terra
e é ainda mais do que ela. É qualquer homem
ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna
em qualquer estalagem, se ainda as há.
— Há mortos? há mercados? há doenças?
É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
por que falsa mesquinhez me rasgaria?
Que se depositem os beijos na face branca, nas principiantes rugas.
O beijo ainda é um sinal, perdido embora,
da ausência de comércio,
boiando em tempos sujos.

Poeta do finito e da matéria,
cantor sem piedade, sim, sem frágeis lágrimas,
boca tão seca, mas ardor tão casto.
Dar tudo pela presença dos longínquos,
sentir que há ecos, poucos, mas cristal,
não rocha apenas, peixes circulando
sob o navio que leva esta mensagem,
e aves de bico longo conferindo
sua derrota, e dois ou três faróis,
últimos! esperança do mar negro.
Essa viagem é mortal, e começá-la.
Saber que há tudo. E mover-se em meio
a milhões e milhões de formas raras,
secretas, duras. Eis aí meu canto.

Ele é tão baixo que sequer o escuta
ouvido rente ao chão. Mas é tão alto
que as pedras o absorvem. Está na mesa
aberta em livros, cartas e remédios.
Na parede infiltrou-se. O bonde, a rua,
o uniforme de colégio se transformam,
são ondas de carinho te envolvendo.

Como fugir ao mínimo objeto
ou recusar-se ao grande? Os temas passam,
eu sei que passarão, mas tu resistes,
e cresces como fogo, como casa,
como orvalho entre dedos,
na grama, que repousam.

Já agora te sigo a toda parte,
e te desejo e te perco, estou completo,
me destino, me faço tão sublime,
tão natural e cheio de segredos,
tão firme, tão fiel… Tal uma lâmina,
o povo, meu poema, te atravessa.

 

Procura da poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem; rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito,
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

 

A flor e a náusea

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

 

“A rosa do povo” nos vestibulares:

2020

Universidade Federal de Uberlândia

2021

Universidade Federal de Uberlândia

2022

Universidade Federal de Uberlândia

 

Vídeos

Simpósio A Rosa do Povo (Playlist de 7 vídeos)


Programa produzido pelo UNIVESP (24/03/20).

 

Maria Bethânia, Arnaldo Antunes e José Miguel Wisnik sobre Drummond


Programa produzido pelo Canal Arte1 (24/03/20).

 

Poemas de Drummond declamados por outras pessoas


Canal do YouTube Caio T.

 

Vida e obra de Drummond através de entrevistas


Programa produzido pela TV Cultura.

 

Obras de Carlos Drummond de Andrade

Poesia/Crônica

Alguma Poesia (1930)
Brejo das Almas (1934)
Sentimento do Mundo (1940)
José (1942)
A Rosa do Povo (1945)
Novos Poemas (1948)
Claro Enigma (1951)
Fazendeiro do Ar (1954)
Viola de Bolso (1955)
A Vida Passada a Limpo (1959)
Lição de Coisas (1962)
Versiprosa (1967)
Boitempo (1968)
A Falta que Ama (1968)
Nudez (1968)
As Impurezas do Branco (1973)
Menino Antigo (Boitempo II) (1973)
A Visita (1977)
Discurso de Primavera e Algumas Sombras (1977)
O marginal Clorindo Gato (1978)
Esquecer para Lembrar (Boitempo III) (1979)
A Paixão Medida (1980)
Caso do Vestido (1983)
Corpo (1984)
Eu, Etiqueta (1984)
Amar se Aprende Amando (1985)
Poesia Errante (1988)
O Amor Natural (1992)
Farewell (1996)
Os Ombros Suportam o Mundo (1935)
Futebol a Arte (1970)
Naróta do Coxordão (1971)
Da Utilidade dos Animais
Elegia (1938)

Antologia poética

Poesia até Agora (1948)
A Última Pedra no meu Caminho (1950)
50 Poemas Escolhidos pelo Autor (1956)
Antologia Poética (1962)
Seleta em Prosa e Verso (1971)
Amor, Amores (1975)
Carmina Drummondiana (1982)
Boitempo I e Boitempo II (1987)
Minha Morte (1987)

Infantis

O Elefante (1983)
História de Dois Amores (1985)
O Pintinho (1988)
Rick e a Girafa[14]

Prosa

Confissões de Minas (1944)
Contos de Aprendiz (1951)
Passeios na Ilha (1952)
Fala, Amendoeira (1957)
A Bolsa & a Vida (1962)
A Minha Vida (1964)
Cadeira de Balanço (1966)
Caminhos de João Brandão (1970)
O Poder Ultrajovem e mais 79 Textos em Prosa e Verso (1972)
De Notícias & Não-notícias Faz-se a Crônica (1974)
Os dias lindos (1977)
70 Historinhas (1978)
Contos Plausíveis (1981)
Boca de Luar (1984)
O Observador no Escritório (1985)
Tempo Vida Poesia (1986)
Moça Deitada na Grama (1987)
O Avesso das Coisas (1988)
Auto-retrato e Outras Crônicas (1989)
As Histórias das Muralhas (1989)

 

Detalhes do e-book

  • Formato: eBook Kindle/Amazon
  • Tamanho do arquivo: 2000 KB
  • Selo: Companhia das Letras (18 de fevereiro de 2012)
  • Editora: Companhia das Letras
  • Número de páginas: 238 páginas
  • Idioma: Português
  • ASIN: B009OR2TEU

Detalhes do livro físico

  • Formato: brochura. Amazon
  • Dimensões: 13,70 X 21,00 cm
  • Peso líquido: 0,253 kg
  • Número de páginas:  200 páginas
  • Capa: Warrak Loureiro
  • Selo: Companhia das Letras (05 de março de 2012)
  • Editora: Companhia das Letras
  • ISBN-10: 8535921184
  • ISBN-13: 978-8535920277
  • Idioma: Português
  • ISBN-13: 9788535920277

 

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“Os dias lindos”, Carlos Drummond de Andrade, Companhia das Letras https://quarentena.org/indicacoes/os-dias-lindos-drummond-cia-letras/ https://quarentena.org/indicacoes/os-dias-lindos-drummond-cia-letras/#respond Tue, 14 Apr 2020 11:12:15 +0000 https://quarentena.org/?post_type=product&p=5294 Carlos Drummond de Andrade, um dos nossos maiores escritores em textos sobre as belezas (e as eventuais agruras) da vida cotidiana.]]>

Apresentação de Os dias lindos, de Carlos Drummond de Andrade

Reunindo textos publicados originalmente no Jornal do Brasil, no qual o escritor mineiro mantinha uma cadeira cativa na página de crônica, Os dias lindos traz não apenas o texto leve e circunstancial que ajudou a inscrever o nome de Carlos Drummond de Andrade na história desse gênero tão brasileiro, mas também uma miríade de pequenos contos e narrativas. Todos bastante diversos entre si, mas com um denominador comum: a enorme facilidade que o autor demonstra para criar enredos e personagens cheios de graça.

Dividido em seis grandes seções, este livro surpreende o leitor com sua mistura de observação da vida cotidiana com a melhor fabulação do grande autor mineiro. A vida da classe média carioca, a nossa relação com a linguagem, o crescente processo de urbanização das cidades brasileiras – tudo isso comparece com ironia e alguma poesia.

Anota a crítica Beatriz Rezende, autora do esclarecedor posfácio a esta edição: “Finalmente, vale destacar que, dos vários conjuntos de crônicas publicados por CDA, Os dias lindos talvez seja o que frequentemente se detém sobre a própria linguagem, seus múltiplos usos, suas variações. É sobre linguagem da cidade que os textos falam, falando a linguagem da cidade. Linguajares esquecidos são recuperados, jogos de palavra, tempos dos verbos, flexões e concordâncias”.

Leia um trecho, clicando aqui.

 

Índice / Sumário de Os dias lindos, de Carlos Drummond de Andrade

Quatro histórias

Corrente da sorte

i. Quarenta e oito cópias em quarenta e oito horas
ii. Considerações intervalares
iii. A tarefa posta em questão
iv. Entreabre-se a porta para a aventura
v. A tranquila viagem
vi. O homem testado
vii. Diálogo na fazenda
viii. Foste tu que o disseste, João
ix. O nome e o número
x. Cavalgada
xi. Final panorâmico

História de amor em cartas
A visita inesperada
Jacaré de papo azul

Seis historinhas

Pescadores
Depois do jantar
A viúva do viúvo
Tatu
Noiva de Pojuca
No caminho de Canela de Boi

O homem e a linguagem

O homem, animal exclamativo
O homem, animal que pergunta
O homem no condicional
O homem e suas negativas
Dizer e suas consequências
As palavras que ninguém diz

Conversa na fila

Prazer em conhecê-lo
Olá, mestre
Caso de sequestro
O clube da ilusão em Felisburgo
A flor e seu nome
Zarandalha
Despedida de cordel
passagem do ano
Vacina de ano-novo
Anúncio de viver
Canção de todos os carnavais
Equipamento escolar
Os dias lindos
Presente para a senhora
Outro presente para a senhora
Dia santo e feriado
Tanajura como alimento
Cosme e Damião: o senso da fraternidade
Elegia do Guandu
O crime de Fátima

Ah, como a vida é burocrática!

Eu, você, ele: números
A dependente
O novo Diário Oficial
O sabor da laranja
Poluição sob controle
Como prevenir assaltos
Sem ódio
Autoridade e cartão
Venha correndo
Hora de chorar
Apólice
Tempo perdido
Morrer é fácil; difícil é ser enterrado

Matutações

O estranho caso de 2 e 2
A segunda primeira vez
Que fazer com os pelos do ouvido
Desagradável
A mão e o convite
Como se fosse balanço
Estátuas egípcias
Projeto de carta
Nota da edição

Posfácio

“A prosa nos jornais”. por Beatriz Resende.

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Vida e obra de Drummond através de entrevistas


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Sentimento do mundo“, de Carlos Drummond de Andrade

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“Caminhos de João Brandão”, de Carlos Drummond de Andrade https://quarentena.org/indicacoes/caminhos-de-joao-brandao-de-carlos-drummond-de-andrade/ https://quarentena.org/indicacoes/caminhos-de-joao-brandao-de-carlos-drummond-de-andrade/#respond Tue, 14 Apr 2020 05:21:45 +0000 https://quarentena.org/?post_type=product&p=5226 Carlos Drummond de Andrade, um dos nossos maiores escritores em textos sobre as belezas (e as eventuais agruras) da vida cotidiana.]]>

Apresentação

João Brandão é figura singular na crônica brasileira. Não é pseudônimo, como o Manassés e o João das Regras que em momentos diferentes ocultaram Machado de Assis de seus contemporâneos. Tampouco é personagem de contornos detalhados e vida própria como Tia Zulmira ou Primo Altamirando, criaturas de Stanislaw Ponte Preta – este sim pseudônimo, que acabou sobrepondo-se a seu criador, Sérgio Porto. João Brandão poderia ser definido, pelo menos a princípio, como um alter ego de Carlos Drummond de Andrade, gauche como convém ao poeta e de participação um tanto episódica em sua longa carreira de cronista. Mas a melhor medida de sua importância talvez seja mesmo este livro, que saiu pela primeira vez em 1970 reunindo publicações da década anterior. ”

É com essas palavras que o escritor e jornalista Paulo Roberto Pires, autor do esclarecedor posfácio desta edição, resume o papel da criação do cronista Carlos Drummond de Andrade. Embora figure numa pequena porção dos textos reunidos neste volume, o personagem drummondiano se impõe como uma consciência fluida – por vezes zombeteira, noutras melancólica – da vida e dos acontecimentos do Brasil das décadas de 1950 e 1960. E vai além: João Brandão funciona como uma espécie de repositório das opiniões de toda uma fração da sociedade (em especial, a carioca) a respeito dos grandes e pequenos temas de seu tempo. As mudanças nos costumes, a mesquinhez da vida política, a brutalidade diária – tudo isso é traduzido em prosa clara, acessível e de leitura imensamente prazerosa.

Porque Drummond é também um clássico da nossa crônica, tanto que seus textos não envelheceram um centímetro. A despeito de serem (como toda crônica, aliás) bastante relacionados ao tempo em que foram escritos, os artigos ainda possuem relevância graças ao estilo desassombrado do autor e a algo quase inefável, mas que é fruto de um rigoroso trabalho de estilo ao longo de décadas colaborando com jornais: a leveza e a inteligência sutil e penetrante que abarcam praticamente todos os aspectos da vida social, cultural e emocional de uma grande cidade brasileira.

Leia um trecho, clicando aqui.

 

Sumário

História do animal incômodo

O cavalo
Opiniões
A cauda
A situação complica-se
Final

Para um dicionário
Telefone
Diabos de Itabira
José de Nanuque
O chope e a passagem
Impróprio para mineiro
Conversa de casados
A mesária
O amigo que chega de longe
Bombas sobre a vida

A fugitiva

Nova canção (sem rei) de Tule
Tudo de novo
O Rio em pedacinhos
O outro nome do verde
Dias que eles inventam

Do papai
Diploma
A nova aurora
Namorados no mundo

FMI
Escolha
O PTT
Descanso de garçom
A eterna imprecisão de linguagem
Na fossa
Acertado
A cápsula
No festival
Um livro, um sorriso
Antigamente
A datilógrafa
O indesejado
Os olhos
O importuno
O novo homem
O jardim em frente
Nós, antiguidades
Perigos e sonhos

Este Natal
Para cada um

O nome
Inativos
Encontro
Exercício de/sem (?) estilo
União nacional em três dias
A lixeira
O dono
Entre a orquídea e o presépio
Memorial das águas

Dois no Corcovado
Voluntário
Na treva
O telhado

Na escada rolante
A festa acabou

O beijo nos lábios
Sebastião explica-se

Cabral, em sua estátua
Queixa de uns óculos errados
Escolha seu batente
Casamento
Requerimento conservador
Um chamado João
Guignard na parede
Surge o poeta da flor
Que dia é hoje, Leninha?
História do cidadão no poder

João Brandão salvará o país?
Nova bossa: a qualqueridade
Começou assim o novo governo
Pedras no caminho de jb
Final (sem drama) da crise

O morto de Mênfis

Nota da edição

Posfácio

“O alter ego de todo mundo”. por Paulo Roberto Pires.

Leituras recomendadas

Cronologia

Vida e obra de Drummond através de entrevistas


Programa produzido pela TV Cultura.

 

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“70 Historinhas”, de Carlos Drummond de Andrade

Sentimento do mundo“, de Carlos Drummond de Andrade

Os dias lindos“, de Carlos Drummond de Andrade

Fala, Amendoeira“, de Carlos Drummond de Andrade

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“Sentimento do mundo”, de Carlos Drummond de Andrade https://quarentena.org/indicacoes/sentimento-do-mundo-drummond-cia-letras/ https://quarentena.org/indicacoes/sentimento-do-mundo-drummond-cia-letras/#respond Tue, 14 Apr 2020 03:13:48 +0000 https://quarentena.org/?post_type=product&p=5224 Sentimento do mundo é a obra em que o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade traz um olhar cuidadoso para temáticas políticas e sociais de seu tempo. Afinal, durante sua elaboração o Brasil vivia a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas e a Europa observava a assustadora ascensão nazi-fascista.]]>

Apresentação de Sentimento do Mundo

Publicado em 1940, Sentimento do mundo permanece, tantos anos depois, ainda um dos livros mais celebrados da carreira de Carlos Drummond de Andrade. Não é para menos: o livro enfileira poemas clássicos como “Sentimento do mundo”“Confidência do Itabirano”“Poema da necessidade” – é possível que versos do livro inteiro tenham sido impressos no inconsciente literário brasileiro, tamanha é sua repercussão até hoje.

Já estabelecido no Rio e observando o mundo (e a si mesmo) de uma perspectiva urbana, o Drummond de Sentimento do mundo oscila entre diversos polos: cidade x interior, atualidade x memórias, eu x mundo. Perfeita depuração dos livros anteriores, este é um verdadeiro marco – e como se isso não bastasse, é o livro que prepara o terreno para nada menos do que A rosa do povo (1945). Por isso a ênfase, ao longo de todo o livro, na vida presente.

A editora disponibiliza os cinco primeiros poemas como degustação em pdf, mas você também poderá lê-los abaixo ou na aba “Trecho da Obra”.

 

Índice / Sumário do livro / Lista dos poemas

  1. “Sentimento do Mundo”
  2. “Confidência do Itabirano”
  3. “Poema da Necessidade”
  4. “Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte”
  5. “Tristeza do Império”
  6. “O Operário no Mar”
  7. “Menino Chorando na Noite”
  8. “Morro da Babilônia”
  9. “Congresso Internacional do Medo”
  10. “Os Mortos de Sobrecasaca”
  11. “Brinde no Juízo Final”
  12. “Privilégio do Mar”
  13. “Inocentes do Leblon”
  14. “Canção de Berço”
  15. “Indecisão do Méier”
  16. “Bolero de Ravel”
  17. “La Possession du Monde”
  18. “Ode no Cinquentenário do Poeta Brasileiro”
  19. “Os Ombros Suportam o Mundo”
  20. “Mãos Dadas”
  21. “Dentaduras Duplas”
  22. “Revelação do Subúrbio”
  23. “A Noite Dissolve os Homens”
  24. “Madrigal Lúgubre”
  25. “Lembrança do Mundo Antigo”
  26. “Elegia 1938”
  27. “Mundo Grande”
  28. “Noturno à Janela do Apartamento”

Posfácio

“Desejo de transformação”. por Murilo Marcondes de Moura.

 

Trecho da obra Sentimento do Mundo

1. Sentimento do mundo

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite

 

2. Confidência do itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

 

3. Poema da necessidade

É preciso casar João,
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbedo,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens,
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar o FIM DO MUNDO.

 

4. Canção da moça-fantasma de belo horizonte

Eu sou a Moça-Fantasma
que espera na Rua do Chumbo
o carro da madrugada.
Eu sou branca e longa e fria,
a minha carne é um suspiro
na madrugada da serra.
Eu sou a Moça-Fantasma.
O meu nome era Maria,
Maria-Que-Morreu-Antes.

Sou a vossa namorada
que morreu de apendicite,
no desastre de automóvel
ou suicidou-se na praia
e seus cabelos ficaram
longos na vossa lembrança.
Eu nunca fui deste mundo:
Se beijava, minha boca
dizia de outros planetas
em que os amantes se queimam
num fogo casto e se tornam
estrelas, sem ironia.

Morri sem ter tido tempo
de ser vossa, como as outras.
Não me conformo com isso,
e quando as polícias dormem
em mim e fora de mim,
meu espectro itinerante
desce a Serra do Curral,
vai olhando as casas novas,
ronda as hortas amorosas
(Rua Cláudio Manuel da Costa),
para no Abrigo Ceará,
não há abrigo. Um perfume
que não conheço me invade:
é o cheiro do vosso sono
quente, doce, enrodilhado
nos braços das espanholas…
Oh! deixai-me dormir convosco.

E vai, como não encontro
nenhum dos meus namorados,
que as francesas conquistaram,
e que beberam todo o uísque
existente no Brasil
(agora dormem embriagados),
espreito os carros que passam
com choferes que não suspeitam
de minha brancura e fogem.
Os tímidos guardas-civis,
coitados! um quis me prender.
Abri-lhe os braços… Incrédulo,
me apalpou. Não tinha carne
e por cima do vestido
e por baixo do vestido
era a mesma ausência branca,
um só desespero branco…
Podeis ver: o que era corpo
foi comido pelo gato.

As moças que ainda estão vivas
(hão de morrer, ficai certos)
têm medo que eu apareça
e lhes puxe a perna… Engano.
Eu fui moça, serei moça
deserta, per omnia saecula.
Não quero saber de moças.
Mas os moços me perturbam.

Não sei como libertar-me.
Se o fantasma não sofresse,
se eles ainda me gostassem
e o espiritismo consentisse,
mas eu sei que é proibido,
vós sois carne, eu sou vapor.
Um vapor que se dissolve
quando o sol rompe na Serra.

Agora estou consolada,
disse tudo que queria,
subirei àquela nuvem,
serei lâmina gelada,
cintilarei sobre os homens.
Meu reflexo na piscina
da Avenida Paraúna
(estrelas não se compreendem),
ninguém o compreenderá.

 

5. Tristeza do império

Os conselheiros angustiados
ante o colo ebúrneo
das donzelas opulentas
que ao piano abemolavam
“bus-co a cam-pi-na se-re-na
pa-ra li-vre sus-pi-rar”
esqueciam a guerra do Paraguai,
o enfado bolorento de São Cristóvão,
a dor cada vez mais forte dos negros
e sorvendo mecânicos
uma pitada de rapé
sonhavam a futura libertação dos instintos
e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus de Copacabana, com rádio e telefone automático.

 

[FUVEST | UNICAMP #6] Sentimento do Mundo (Carlos Drummond de Andrade) + áudio Sentimento do Mundo


Canal do YouTube de tatianagfeltrin.

Maria Bethânia, Arnaldo Antunes e José Miguel Wisnik sobre Carlos Drummond de Andrade


Programa produzido pel o Canal Arte1.

Poemas de Carlos Drummond de Andrade declamados por outras pessoas


Canal do YouTube Caio T.

Vida e obra de Carlos Drummond de Andrade através de entrevistas


Programa produzido pela TV Cultura.

 

Você pode se interessar também pelos seguintes livros de Drummond:

“70 Historinhas”, de Carlos Drummond de Andrade

Caminhos de João Brandão”, de Carlos Drummond de Andrade

Os dias lindos“, de Carlos Drummond de Andrade

Fala, Amendoeira“, de Carlos Drummond de Andrade

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“70 Historinhas”, de Carlos Drummond de Andrade https://quarentena.org/indicacoes/70-historinhas-carlos-drummond-de-andrade/ https://quarentena.org/indicacoes/70-historinhas-carlos-drummond-de-andrade/#respond Tue, 14 Apr 2020 02:39:31 +0000 https://quarentena.org/?post_type=product&p=5222 Carlos Drummond de Andrade.]]>

Apresentação de 70 historinhas

Lançado em 1978, 70 historinhas reúne a prosa já publicada por Carlos Drummond de Andrade em outros livros. São crônicas e contos – ou “cronicontos” – em que a observação caminha junto com a fabulação, o humor roça cotovelos com o lirismo e a crítica aparece arejada pelo deboche.

Treze das histórias deste livro têm crianças e adolescentes como personagens, sem que o autor se preste a infantilizá-las, pela paródia da linguagem ou pelo primarismo das ações. Pelo contrário, elas enfrentam, contestam e vencem, muitas vezes, os detentores da autoridade, com a inteligência e a argúcia a que recorrem para desafiar-lhes o poder.

Mais um lance de gênio de um dos mais importantes autores brasileiros de todos os tempos..

A editora disponibiliza um trecho de 70 historinhas como degustação em pdf, mas você também pode lê-lo logo abaixo.

 

Índice / Sumário do livro 70 historinhas

O jardim em frente
Nascer
Pescadores
Assalto
Caso de secretária
A cabra e Francisco
Coração segundo
O telhado
Drink
Caso de arroz
A cápsula
Dois no Corcovado
Premonitório
Depois do jantar
Caso de escolha
A datilógrafa
Suspeita
Voluntário
Três homens na estrada
Caso de canário
A festa acabou
Na delegacia
Duas mulheres
À procura de um rosto
Caso de justiceiro
No caminho de Canela de Boi
Prazer em conhecê-lo
Serás Ministro
Peru
Caso de boa ação
Recalcitrante
Quadro na parede
Ladrões no terraço
De fraque
Caso de menino
Luzia
No ônibus
O dono
Noiva de Pojuca
Caso de recenseamento
O importuno
Banco barroco
Maneira de olhar
Essência, existência
Caso de chá
Glória
A menininha e o gerente
O crime de Fátima
Iniciativa
Caso de conversa
Juiz de paz
Esparadrapo
Acertado
O segredo do cofre
Caso de almoço
O outro Emílio Moura
Conversa de casados
Aconteceu alguma coisa
O sono
Caso de ceguinho
Guignard na parede
O pintinho
Boneca triste
No restaurante
O outro marido
A visita inesperada
O ladrão
Na escola
A viúva do viúvo
Jacaré de papo azul

Nota da edição

Posfácio

“Mais que historinhas”, por Edmílson Caminha.

Leituras recomendadas

Cronologia

 

Trecho da obra 70 historinhas

O jardim em frente

Os big-shots da empresa estavam reunidos em conferência. Assunto importante, desses que exigem atenção, objetividade. O
presidente recomendara:

— Não estamos para ninguém. Essa porta fica trancada. Avisem a telefonista que não atenda a nenhum chamado. Nem do papa.

Começou-se por dividir o assunto em partes, como quem divide um leitão. Cada parte era examinada pelo direito e pelo avesso, avaliada, esquadrinhada, radiografada. Cartesianamente.

— Você aí, quer fazer o favor de parar com essa caricatura?

O presidente não admitia alienação. Por sua vez, foi advertido pelo vice:

— E você, meu caro, podia deixar de bater com esse lápis, toc, toc, toc, na mesa?

Estavam tensos, à véspera de uma decisão que envolvia grandes interesses. Alguém bateu à porta.

— Não respeitam! Não respeitam o trabalho da gente! Isso não é país!

Seja ou não seja país, quando batem à porta a solução é abrir, para evitar novas batidas, ou, mesmo, que a porta venha abaixo. Pois ninguém deixa de bater, se sabe que tem gente do outro lado.

O diretor-secretário abriu, de óculos fuzilantes. O chefe da portaria, cheio de dedos, balbuciou:

— Essa senhora… essa senhora aí. Veio pedir uma coisa.

O primeiro impulso do diretor-secretário foi demitir imediatamente o chefe da portaria, servidor antigo, conceituadíssimo, mas viu ao mesmo tempo diante de si a imagem consternada do homem e a lei trabalhista: duas razões de clemência. Pensou ainda em mandar a senhora àquele lugar de Roberto Carlos ou a outro pior. Dominou-se: ela ostentava no rosto aquela marca de tristeza que amolece até diretoria.

— A senhora me desculpe, mas estou tão ocupado.

— Eu sei, eu é que peço desculpas. Estou perturbando, mas não tinha outro jeito. Moro do outro lado da rua, no edifício em frente. Meu canário…

— Fugiu e entrou aqui no escritório? Eu mando pegar. Fique tranquila.

— Antes tivesse fugido. Morreu.

— E daí?

— Viveu quinze anos conosco. Era uma graça… Pousava no dedo…

— E daí, minha senhora?

— O senhor vai estranhar meu pedido… Eu estava sem coragem de vir aqui. Por favor, não ria de mim.

— Não estou rindo. Pode falar.

— Os senhores têm um jardim tão lindo na cobertura. Da minha janela, fico apreciando. Então agora está uma coisa. Posso fazer um pedido?

— Pode.

— Eu queria enterrar o meu canário no seu jardim. Lá é que é lugar bom para ele descansar. O senhor vê, nós temos aquele terrenão ao lado do edifício, com três palmeiras, um pé de fruta-pão, mas é grande demais para um passarinho, falta intimidade. Se o senhor consente, eu mesma abro a covinha. Não dou o menor trabalho, não sujo nada.

O diretor-secretário esqueceu que tinha pressa, que havia um problema sério a discutir. Que problema? Naquele momento, o importante, o real era um canarinho morto, e amado.

— Pois não, minha senhora, disponha do jardim. Eu mesmo vou levar a senhora lá em cima, para escolher o lugar.
Subiram, escolheram o canteiro mais apropriado, onde bate sol pela manhã, e à tarde as plantas balançam levemente, à brisa do mar.

— Não é abuso eu fazer mais um pedido? Queria que o jardineiro não revolvesse a terra neste ponto, durante três meses. O tempo de os ossinhos dele se desfazerem… Volto daqui a meia hora, para o enterro.

Meia hora depois, voltava com uma caixinha forrada de veludo azul-claro, e a reunião dos big-shots, que ainda durava, foi suspensa para que todos, com o presidente muito compenetrado, assistissem ao sepultamento.

06/10/1967

Vida e obra de Drummond através de entrevistas


Programa produzido pela TV Cultura.

 

Você pode se interessar também pelos seguintes livros de Drummond:

Caminhos de João Brandão”, de Carlos Drummond de Andrade

Sentimento do mundo“, de Carlos Drummond de Andrade

Os dias lindos“, de Carlos Drummond de Andrade

Fala, Amendoeira“, de Carlos Drummond de Andrade

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https://quarentena.org/indicacoes/70-historinhas-carlos-drummond-de-andrade/feed/ 0
“Fala, Amendoeira”, de Carlos Drummond de Andrade https://quarentena.org/indicacoes/fala-amendoeira-carlos-drummond-andrade/ https://quarentena.org/indicacoes/fala-amendoeira-carlos-drummond-andrade/#respond Tue, 14 Apr 2020 01:47:12 +0000 https://quarentena.org/?post_type=product&p=5213 Rio de Janeiro, do cinema, da política e dos afetos, Carlos Drummond de Andrade oferece – com delicadeza, inteligência cortante e uma prosa a um só tempo clássica e moderna – um retrato do Brasil de seu tempo. E que, como sabemos hoje, alcançaria a eternidade.]]>

Apresentação de Fala, Amendoeira

“Fala, amendoeira”, de Carlos Drummond de Andrade. Fala Amendoeira.
fala amendoeira drummond

Fala, amendoeira é uma reunião de crônicas originalmente publicadas no jornal Correio da Manhã, em que o poeta mantinha uma coluna desde 1954. Em texto introdutório, Carlos Drummond de Andrade escreve uma espécie de tratado do gênero: “Este ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo exige que prestemos alguma atenção à natureza – essa natureza que não presta atenção em nós. Abrindo a janela matinal, o cronista reparou no firmamento, que seria de uma safira impecável se não houvesse a longa barra de névoa a toldar a linha entre o céu e o chão – névoa baixa e seca, hostil aos aviões. […]”.

Porque a crônica vive em grande parte desses contrastes, daquilo que poderia ter sido (antigamente, num tempo ameno, na infância do autor, numa era de ouro) e aquilo que de fato é (a vida em cidades que crescem e se transformam desordenadamente, o próprio envelhecimento do autor, as atordoantes mudanças de costumes a cada passagem de geração). Não foi à toa que, à época da publicação do volume, Rubem Braga saudou o Drummond cronista. Como o autor capixaba, o mineiro investia com o arsenal clássico: memória, comentários sobre a mudança do tempo e dos costumes, críticas municipais, um pouco de vida literária e outros textos de circunstância.

O Drummond de Fala, amendoeira é um dos grandes artífices da crônica. Injeta a medida certa de lirismo, é um observador astuto e mescla comentário com um pouco de ficção. Quanto à linguagem, estes textos são puro Drummond: calorosos e informais, suavemente cultivados e ligeiramente emburrado. Uma leitura sempre fluente e prazerosa.

A editora disponibiliza um trecho como degustação em pdf, mas você também pode lê-lo logo abaixo.

 

Índice / Sumário do livro Fala, Amendoeira

mentiras

Garbo: novidades
Um sonho modesto
Assembleia baiana
A eleição diferente

lugares

Nobre rua São José
Buganvílias
O murinho
A casa
Arpoador

costumes

Cor-de-rosa
Facultativo
Mistério da bola
O Grêmio Artur Azevedo
Liquidação
A mobília
Delícias de Manaus
14 dólares
Carta ao Ministro

problemas

Varrendo a testada
A fabulosa renda
Diário

datas

Feriados
Diante do carnaval
Visita
Aeroprosa
Os mortos
Musa natalina

letras

Academia GOnçalves
Diálogo feroz
O outro
Drink

bichos

Elegia de Baby
Anúncio de João Alves
Um sorriso
O pintinho
Iniciativa
Canto carioca
O cão viajante

meninos

Netinho
Gente
O sono
Divertimento
Meninos do Cabo
Pingo
O principezinho

despedidas

A musa de Visconti
Caro Ataulfo
À porta do céu
O antropófago
Nosso amigo Landucci
O feiticeiro

situações

Nascer
Suspeita
Essência, existência
Premonitório
Uma corda
O chamado
Os gregorianos
Luta
Morte na obra
Ventania
Peru

Posfácio

“As coisas do tempo: a crônica na obra de Carlos Drummond de Andrade”. por Ivan Marques.

 

Trecho da obra Fala, Amendoeira

Mentiras

garbo: novidades

Um semanário francês publicou a biografia de Greta Garbo, e embora não conte nada de novo sobre esse fenômeno cinematográfico desconhecido da geração mais moça, atraiu a atenção dos leitores.

A este humilde cronista, a publicação interessou sobretudo porque lhe abriu a urna das recordações; e ainda porque lhe permite desvendar um pequeno segredo velho de vinte e seis anos, e os senhores sabem como os segredos, à força de envelhecer, perdem a significação.

Passado um quarto de século, considero-me desobrigado do compromisso assumido naquela tarde de outono, no Parque Municipal de Belo Horizonte, e revelarei uma página — meia página, se tanto — da vida particular de Greta Garbo.

Está dito na biografia de Paris Match que, depois de recusar o papel de vamp em As mulheres adoram diamantes, oferecido por Louis B. Mayer, a extraordinária atriz se fechou em copas, por cinco meses, em seus aposentos do hotel Miramar, em Santa Mônica, até obter aumento de salário. É falso. Durante esse período, Greta viajou incógnita pela América do Sul, possuída de tedium vitae, e foi dar com sua angulosa e perturbadora figura na capital mineira, onde apenas três pessoas lhe conheceram a identidade.

Corria o ano de 1929, e como corria: a luta pela sucessão do presidente Washington Luís assumira desde logo aspecto violento, mas não deixávamos, eu e um grupo de amigos diletos, de frequentar o cineminha local, onde a Garbo, já em pleno fastígio da glória, desbancava todas as “estrelas” do mundo. Certa manhã, pálido e emocionado, o poeta Abgar Renault bateu-me à porta, reclamando cooperação. Uma senhora estrangeira chegaria pelo noturno da Central, às dez horas (isto é, às três da tarde, pois o trem vinha sempre atrasado). Fora-lhe recomendada por um professor sueco, então nos Estados Unidos, com quem Abgar se correspondia a respeito de poetas elisabetianos. Tínhamos de
reservar-lhe aposentos no Grande Hotel, do Arcângelo Maletta, e proporcionar-lhe distrações campestres, mas a senhora fazia questão de não travar relações com ninguém e se ele, Abgar, queria os meus serviços, era em razão de nossa fraterna amizade.

Tomamos providências e, à tardinha, vimos descer do carro-dormitório, dentro de um capotão cinza que lhe cobria o queixo, e por trás dos primeiros óculos pretos que uma filha de Eva usou naquelas paragens, um vulto feminino estranho e seco, pisando duro em sapatões de salto baixo. Mal franziu os lábios para cumprimentar o meu amigo, olhou-me como a um carregador, e disse-nos: “I want to be alone”. Depois, manifestou os dentes num largo sorriso, como a explicar: “Mas isso não atinge a vocês”. E de fato, nos dias que se seguiram, mostrou-se cordialíssima conosco, sempre através dos conhecimentos de inglês de Abgar, já então notáveis.

Não tardei, por iluminação poética, a identificar a misteriosa viajante, que dava grandes passeios pela serra do Curral acima, e um dia se dispôs a ir a pé a Sabará, empresa de que a dissuadimos, horrorizados. Revelei a Abgar minha descoberta e ele, arregalando os olhos, suplicou-me, por tudo quanto fosse sagrado para mim, que não contasse a ninguém. Fiz-lhe a vontade. Os outros amigos ignoraram tudo. Capanema, Emílio Moura, Milton Campos, João Pinheiro Filho etc., olhavam-nos surpresos ante aquela relação estranha. Explicamos que se tratava de uma naturalista em férias, miss Gustafsson. E a cidade não soube que hospedava pessoa daquela importância. É facílimo enganar uma cidade.

Apenas o Jorge, chofer árabe que nos servia, arranhando vários idiomas, acabou pescando, por uma conversa entre Abgar e a estrangeira, quem era ela. Intimamo-lo a calar-se, sob pena de o denunciarmos como “prestista”. Éramos amigos do governo, e este tomara posição contra o dr. Júlio Prestes, candidato à Presidência da República. Jorge encolheu-se, talvez por motivos que sempre desaconselham um encontro com a autoridade.

À véspera da partida, nossa amiga levou-nos a jantar no Grande Hotel e — lembro-me perfeitamente — fixou os olhos na mesa vizinha, onde uma família chegada da Bahia abrangia um garotinho de cerca de dois anos. Greta mirou a testa larga do guri, e disse pensativamente: “É poeta”. Tive a curiosidade de procurar no livro da gerência o nome da família: Amaral; e do neném: José Augusto. É hoje o poeta e crítico de cinema Van
Jafa, que, decerto, ignora esse vaticínio.

Saímos ao entardecer para uma volta no parque, e lá Greta Garbo, mãos nas mãos, pediu-nos que jamais lhe revelássemos a identidade. De resto, ela própria não sabia mais ao certo quem era: as personagens que interpretara se superpunham ao “eu” original. Uma confusão… “Gostaria de ficar entre vocês para sempre, tirando leite das vaquinhas num sítio em Cocais. That’s a dream.” Furtamos um papagaio do parque e o oferecemos à amiga; reencontro essa ave no texto de Paris Match, dizendo: “Hello, Greta” e imitando sua risada, entre gutural e
cristalina… Como a vida passa! Mas, agora, não posso calar.

Vida e obra de Drummond através de entrevistas


Programa produzido pela TV Cultura.

 

Você pode se interessar também pelos seguintes livros de Drummond:

“70 Historinhas”, de Carlos Drummond de Andrade

Caminhos de João Brandão”, de Carlos Drummond de Andrade

Sentimento do mundo“, de Carlos Drummond de Andrade

Os dias lindos“, de Carlos Drummond de Andrade

 

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